10 de ago. de 2011

Aulas sobre Walter Benjamin

É a primeira vez que dou aulas numa sala de Universidade. E o melhor é que estou podendo começar pela obra de Walter Benjamin, que é um filósofo que gosto muito. O objetivo é compreender a modernidade no ambiente urbano e como que o alastramento desses processos influenciam e modificam as nossas vidas. Ao se tratar de uma discussão historiográficas, não podemos perder de vista o movimento de expansão urbana e os movimentos culturais decorrentes dele. Finalmente, o objetivo será estudar as vanguardas na América Latina!!
Sorte a todos, que seja um bom semestre.
Abraços!

18 de mai. de 2011

Nós e as cidades

Caminhar pelas ruas da cidade é uma boa forma de aliviar as pressões que o mundo impõe. (Em Vitória, um percurso interessante é sair do Centro da cidade, perto de Theatro Carlos Gomes e ir caminhando pela Avenida Beira-Mar. O que alegra a paisagem é o morro do Penedo, com sua imponência sobre o mar. Do outro lado da baía tem o porto completando a paisagem).

Sempre que vou a uma cidade gosto de caminhar por suas ruas, passear pelos lugares aonde transitam as pessoas e se acumula todo tipo de gente. Cada cidade é um fragmento de quem a habita, e todos aqueles que a habitam são fragmentos dela.

A vida de qualquer pessoa está ligada à vida de uma cidade. Em determinado momento, me peguei perguntando: são as cidades que produzem sentido na vida da pessoa? Ou são as pessoas que produzem sentidos na vida que levam na cidade? É interessante pensar isso. E, ainda sim, não teremos uma resposta única ou fechada.

A dinâmica no espaço citadino é aberta, sempre muda. As cidades apontam para várias direções: o reflexo da proeza humana de organizar o espaço, a incapacidade de controlá-lo totalmente, e mostram, também, a crueldade e a insanidade que temos perante nós mesmos e com o próximo. Ao passo que podemos viver em aconchegantes apartamentos, vemos nas ruas – todos os dias – pessoas que morrem de fome, frio e descaso.

O interessante, de viver em uma cidade não consiste aprender a andar nela. O filósofo Walter Benjamin dizia que a verdadeira arte de andar pelas cidades consiste em se perder; perder-se em nós mesmos e encontrar outros caminhos que nos levam em direção a outras possibilidades de vida, de ação.

Todas as cidades, quando nós permitimos, podem nos ensinar alguma coisa interessante.

10 de abr. de 2011

Incursões Urbanas - Andando por uma megalópole

Andar por São Paulo, a capital, é sempre uma ambiguidade: ao passo que nos situamos na cidade, nos perdemos em nós mesmos. Mesmo para os que vivem aqui, com certeza, a experiência de conviver com a metrópole nunca é algo tão simples. Eu, que morei grande parte de minha vida em Vitória, mesmo não sendo daí, e algum tempo numa cidade do interior de Minas Gerais, me sinto vislumbrado pelo que São Paulo é e está sendo, a cada instante. São Paulo é uma cidade em mudanças constantes, nunca permanece a mesma, a todo hora as ruas mudam, novas obras são feitas, prédios são erguidos. Pobreza e desenvolvimento convivem lado a lado, não em perfeita harmonia, mas em contrastes exageradíssimos.

Por esses dias, que tive a ligeira oportunidade de caminhar pela cidade e ouvir relatos de algumas pessoas, pude compreender como que certas situações ocorrem. Em um lado, há pessoas que nunca conheceram o lado pobre da cidade. Sentado em uma padaria, ouvi o relato de uma pessoa que nunca tinha entrado numa favela. Na verdade, ele nem sabia que isso existia. Foi, somente, ter a noção de que as pessoas viviam naquela condição, quando por engano, se perdeu com o carro da empresa. Do outro lado, tenho uma amiga arquiteta. Para ela, a cidade não faz as pessoas. São as pessoas que fazem a cidade.

O centro da cidade de São Paulo contenha, talvez, aquilo que melhor simbolize a cidade. O movimento frenético das pessoas, dos carros, do metrô, antigos prédios suntuosos e onipresentes na arquitetura da cidade, como o Edifício do Banespa. Nos viadutos, como o Santa Ifigênia e o do Chá, podemos ouvir e ver o ritmo dos carros que circulam, dando a impressão de que a música urbana em São Paulo segue com uma cadência descompassada.

O que me impressiona, ainda mais, é ver em meio a tudo isso as pessoas. Muitos imigrantes nas ruas, a maior parte deles ilegais, tentando ganhar a vida. São latino-americanos, africanos, asiáticos que saem da sua terra natal para buscar melhores condições de vida na metrópole. Outra visão que faz parte da mesma paisagem, e gera impacto são os moradores de rua. Infelizmente, eles não vivem, sobrevivem sempre à mercê de algo que os espreita. Muitos deles são pessoas que perderam empregos, e com certa idade que já não encontram, com tanta facilidade, oportunidades de vida para sair dessas condições, muitas vezes, impostas pelas próprias circunstâncias da vida.

Eu que sou habitante de uma cidade, relativamente, pequena perto de São Paulo, penso no que significa a violência. Em Vitória, onde as pessoas são conservadoras e vivem em redomas de vidro, a violência se manifesta pelas atitudes. É muito fácil perceber, nas pequenas situações, como ela é presente no cotidiano urbano da sociedade rural de Vitória. Para quem anda de ônibus, é comum observar, por exemplo, que os lugares destinados aos idosos, muitas vezes, acabam ocupados por pessoas sem nenhuma necessidade especial. E a gravidade da situação reside, justamente, no fato de os lugares especiais (garantidos por leis) não serem cedidos aos que têm direito. Em São Paulo, não vi, em nenhum momento, esse tipo de situação ocorrer. Pelo contrário, no Metrô vi pessoas que não precisavam ceder os lugares, dando espaço àqueles que necessitavam. Porém, em SP, a violência se manifesta simbolicamente por meio do descaso e da indiferença.

O inverno em Vitória, diferentemente de São Paulo, não é frio. Se viver na rua já é difícil, viver na rua e com frio torna-se muito pior. Um ex-morador de rua de São Paulo relata que “Fala do frio: coisa que ainda me dá arrepios. Nas ruas, desenvolvi um problema que me afeta os dentes, o bruxismo. [...] O sono, à noite, na rua é ruim e preocupante. [...] Frio dói de verdade; dói o corpo, dói a alma”. Imagino que em SP, a violência do descaso, faz com que as pessoas sofram pelo abandono, pela indiferença. Nesse ponto, os moradores de Vitória (com sua mentalidade provinciana) poderiam compreender a dimensão do que significa experienciar o descaso, e talvez modificar as pequenas atitudes que se manifestam no pequeno mundo capixaba. Por que, então, em Vitória as pessoas continuam a fingir que são ilhas? Enquanto em São Paulo, a impressão é de não saber onde as pessoas começam e terminam, pois, o fluxo intenso as tornam sempre imprecisas; em Vitória, prossigo defendendo a tese de que os habitantes introjetam a ilha em si próprios.

Conforme foi dito, com a ilha dentro de si as pessoas pensam saber onde começam e acabam. Mera impressão. Pessoas que se acham auto-suficientes acabam demonstrando a fragilidade de uma cidade cindida, não pelo mar, mas pela falta de respeito. O próprio significado que Vitória assume no vocabulário de seus habitantes, não demora por tomar uma conotação pejorativa.

Que o exemplo da grande cidade sirva a Vitória, na medida em que seus habitantes pratiquem a não-indiferença. Que a ilha saiba que não é somente uma ilha.

Com o desejo de que a sociedade de Vitória não seja tão vitoriana!



3 de abr. de 2011

Solipsimo Parte I

Todo indivíduo que já determina desfechos, para a sua vida, está fadado a não conviver com o mundo real. Aquele indivíduo que já se declara vitorioso, antes mesmo de o ser, paradoxalmente, torna-se um derrotado. Os enredos que levam ao final da trama jamais podem tornar-se negligenciados – eles são parte de um processo. A vida segue uma lógica parecida: como dar fim a algo que não aconteceu? Há situações, que mesmo sendo corriqueiras, nunca se concretizaram?

Cotidianamente acordamos, fazemos nossas demandas e vivemos. Automaticamente, somos obrigados a dar sentido a movimentos (trajetórias) que sequer ocorreram. Se pensarmos em problemas, temos que pensar na solução. Mas como dar solução a um problema que nem resolvido está? Esse é o grande paradoxo. Entre o início e o fim, esqueceram-se do percurso. Algo parecido ocorreria com aquele indivíduo que pegasse o carro e traçasse no mapa um trajeto entre a cidade A e B. Supondo-se que em tal percurso, ao dirigir, seriam vistas diversas paisagens e circunstâncias, que bem percebidas, tornam-se peculiares. Porém, ocorre o seguinte: pego meu carro, saio e de A e devo, sem pensar, chegar em B. Meta cumprida, eu não devo refletir o que fiz, e muito menos sobre o que realizei ou vi.

Na medida em que o ser humano tornou-se o centro da atenção, a mágica foi deixada de lado. Quanto mais se pensou no que é ser e tornar-se humano, menos tempo sobrou para que se refletisse a respeito do significado da experiência na vida.

22 de mar. de 2011

É preciso dar novo sentido ao passado

Achei uma boa oportunidade voltar a escrever neste blog, havia algum tempo que não postava nada novo. A reflexão que tive foi sobre a questão da memória, o fato de ela ser algo importante para o ser humano tanto no cotidiano, quanto para a formulação de referências ao longo da vida.

Li uma reportagem *, na revista Istoé, sobre as obras de revitalização do porto no Rio de Janeiro. Durante as escavações foram encontrados artefatos do século XIX e o Cais da Imperatriz, construído em 1843. Com esses achados, estão misturadas tubulações e fiações que fazem parte da vida moderna. Essa situação reflete um problema que já é recorrente em nossa História nacional: o descaso que as autoridades públicas, o povo e outras entidades privadas possuem pelo patrimônio.

Às vezes, surge a pergunta: “por que preservar?” Simplificando a questão poderíamos dizer que preservamos para construir referências no futuro. Preservar não é só uma questão de proteger o passado, é também uma forma de planejar ações para que no porvir possamos agir. O descaso com o patrimônio reflete, em parte, o modo como os brasileiros se percebem. Se não damos valor à nossa história, é sinal de que somos um povo sem percepção daquilo que somos, parece que existe a sensação de querer apagar o passado. Quando leio uma reportagem dessas, me pergunto: por que nós brasileiros temos tanta vergonha de nosso passado? É evidente que ante todas as nossas dificuldades, parece que ainda somos vítimas do complexo do vira-lata de Nelson Rodrigues.

Ao invés de apagar o passado, denegrindo e negando os patrimônios, poderíamos, por exemplo, ressignificar a memória deles. Se no passado fomos uma nação miserável, um país advindo da colonização e receptores do trabalho escravo; hoje já não possuímos essas características. Existem traumas e máculas que ainda não formam curados? Sim. Porém, temos avançado em muitas áreas, que no passado eram impossíveis de pensar que seriam concretizadas. Antes de querer apagar o passado, é preciso que aprender a (re)significá-lo, torná-lo matéria para produzir novas formas de se pensar a memória nacional, coletiva e individual.



* Trata-se da reportagem “História soterrada” do nº 2158 da Revista Istoé (23 de março de 2011).

6 de jan. de 2011

Toda escrita

Toda escrita é política, e o sentimento?

Para Amar não há plano.

Sem o sentimento fico relendo

A vontade que tinha de fazer política em forma de amor.