6 de out. de 2010

Afinal, já não somos "tão burros".

Estamos contentes com o rumo que a política vem sendo conduzida no Brasil? No último domingo (03 de outubro de 2010), o brasileiro foi a urna para votar. Votou bem? Pelo que indicam os números, poucas foram as mudanças no quadro legislativo federal. Apenas 43% da câmara se renovou. De fato, isso já é sinal positivo a respeito da condução da política no país, pois, nessas eleições alguns candidatos não tiveram o direito de se reelegerem.
Agora, o que deixa o Brasil com grande expectativa é o segundo turno. Para aqueles que apoiaram Dilma com a certeza de vitória certa, o mundo deixou de ser tão certo. Os "serristas", se aproveitam do fato para tentar ganhar Brasília, novamente. Enquanto isso, a candidata derrotada do PV, mas que foi destaque em jornais ao redor do mundo (Le Monde, Clarín, etc.), aguarda a reunião de seu partido sem ideologia e projeto para apoiar, com certeza, o candidato que estiver como favorito. Certo, pela sua atitude, foi Gilberto Gil (cantor e ex-ministro da cultura) que declarou apoio a Dilma. Nesse ponto, admiro a ação dele enquanto indivíduo público ao se pôr por cima dos interesses do partido.
Como brasileiro, e que está acompanhando com anseio as eleições, não gosto do modo como esse processo eleitoral foi conduzido. Praticamente, todos os candidatos sobrepujaram os interesses econômicos e administrativos em detrimento de se pensar a nação, o Brasil e o povo. Ganhou, infelizmente, o marketing. Como alegou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (ao meu ver, um grande intelectual, que largou suas convicções em nome de uma sociedade excessivamente burocratizada), não se pensa mais no futuro, se montam discursos e pronto. Ganha aquele que convencer melhor.
A verdade é: enquanto milhares de brasileiros estão sem acesso a saúde, ao que comer, ao saneamento básico, a educação (de qualidade e básica), duas elites políticas - esclerosadas pelo tempo e desgastadas pelo poder - brigam pelo governo. Fora isso, a mídia e o povo caem em armadilha ao ouvir palavras firmes - e falsas - de candidatos que alegam que irão reduzir a menor idade penal e criminalizar o aborto - não é senador Magno Malta? Que façam isso, mas que seja feito com o debate político e não, pelas simples palavras, de um indivíduo que sozinho não pode salvar a sociedade.
Do outro lado, ainda, resta a tal Marina da Silva. Inteligente, mas que não deixa de representar a ala conservador da sociedade. Não diria nem conservadora, mas retrógrada. Afinal de contas, o objetivo é diminuir a maior idade penal enquanto as cadeias super-lotadas continuam a ser locais insalubres de convivência onde as pessoas se tornam mais violentas? Ou, por que o aborto, prática constante na sociedade (porém, obscurecida), tem de ser criminalizada? Não me oponho à vida, me oponho àqueles que fazem dela um local menos feliz e que se utilizam de meios para ascender a objetivos obscuros. Será que a sociedade brasileira é tão retrógrada assim, a ponto de não ver o que se passa?
O que eu noto é a manifestação do medo. As pessoas tem medo de se mostrarem, e mesmo assim, juntam cacos de coragem para mostrar que, ainda, resta dignidade numa nação corrompida, a muito pela falta de compromisso público de indivíduos que governam. É inegável a mudança do pensamento da sociedade, e, já não somos "tão burros" assim. Ou melhor, nunca fomos burros. O que estamos aprendendo é que temos o poder, e com ele podemos mudar o mundo. Nenhum indivíduo é passivo. Essas últimas eleições, verdadeiramente, provaram isso.