22 de mar. de 2011

É preciso dar novo sentido ao passado

Achei uma boa oportunidade voltar a escrever neste blog, havia algum tempo que não postava nada novo. A reflexão que tive foi sobre a questão da memória, o fato de ela ser algo importante para o ser humano tanto no cotidiano, quanto para a formulação de referências ao longo da vida.

Li uma reportagem *, na revista Istoé, sobre as obras de revitalização do porto no Rio de Janeiro. Durante as escavações foram encontrados artefatos do século XIX e o Cais da Imperatriz, construído em 1843. Com esses achados, estão misturadas tubulações e fiações que fazem parte da vida moderna. Essa situação reflete um problema que já é recorrente em nossa História nacional: o descaso que as autoridades públicas, o povo e outras entidades privadas possuem pelo patrimônio.

Às vezes, surge a pergunta: “por que preservar?” Simplificando a questão poderíamos dizer que preservamos para construir referências no futuro. Preservar não é só uma questão de proteger o passado, é também uma forma de planejar ações para que no porvir possamos agir. O descaso com o patrimônio reflete, em parte, o modo como os brasileiros se percebem. Se não damos valor à nossa história, é sinal de que somos um povo sem percepção daquilo que somos, parece que existe a sensação de querer apagar o passado. Quando leio uma reportagem dessas, me pergunto: por que nós brasileiros temos tanta vergonha de nosso passado? É evidente que ante todas as nossas dificuldades, parece que ainda somos vítimas do complexo do vira-lata de Nelson Rodrigues.

Ao invés de apagar o passado, denegrindo e negando os patrimônios, poderíamos, por exemplo, ressignificar a memória deles. Se no passado fomos uma nação miserável, um país advindo da colonização e receptores do trabalho escravo; hoje já não possuímos essas características. Existem traumas e máculas que ainda não formam curados? Sim. Porém, temos avançado em muitas áreas, que no passado eram impossíveis de pensar que seriam concretizadas. Antes de querer apagar o passado, é preciso que aprender a (re)significá-lo, torná-lo matéria para produzir novas formas de se pensar a memória nacional, coletiva e individual.



* Trata-se da reportagem “História soterrada” do nº 2158 da Revista Istoé (23 de março de 2011).